Uma descoberta arqueológica no Irão revelou uma sepultura de mais de 3000 anos, pertencente a uma jovem de alto estatuto social, adornada com joias e artefactos únicos. Localizada no sítio arqueológico de Tepe Chalow, na remota província de Coração do Norte, esta sepultura, conhecida como Sepultura 12, é a mais rica já encontrada da Grande Civilização do Coração (GKC). A jovem, com menos de 18 anos, foi enterrada com itens que sugerem um papel significativo na sua comunidade. Vamos explorar os detalhes desta descoberta fascinante e o que ela revela sobre uma civilização esquecida.
Uma Sepultura de Elite na Grande Civilização do Coração
A Sepultura 12 contém os restos mortais de uma jovem, provavelmente falecida de causas naturais por volta do final do terceiro milénio a.C. O sítio de Tepe Chalow, descoberto em 2006 pelo arqueólogo Ali Vahdati, faz parte da Grande Civilização do Coração, uma cultura da Idade do Bronze que floresceu entre o final do terceiro e início do segundo milénio a.C. Esta civilização, parte do Complexo Arqueológico Bactria-Margiana (BMAC), estendia-se pelo nordeste do Irão, Turquemenistão, Afeganistão e Uzbequistão, conectando-se comercialmente com Mesopotâmia e o Vale do Indo.
A jovem foi enterrada numa posição encolhida, deitada sobre o lado direito, com o rosto virado para sudeste, uma prática tradicional em Tepe Chalow. A riqueza dos artefactos encontrados – 34 itens no total – destaca o seu estatuto elevado. Entre os objetos estão joias de ouro, alfinetes de marfim, recipientes de clorite, um espelho de bronze e uma rara caixa de cosméticos decorada com motivos de serpentes e escorpiões.
Artefactos Excecionais e o Seu Significado
Os itens encontrados na Sepultura 12 oferecem pistas sobre a vida e a cultura da jovem:
- Caixa de Cosméticos em Clorite: Feita de pedra preta rica em clorite, esta caixa rectangular, decorada com serpentes e escorpiões, era usada para guardar kohl, um pigmento utilizado como delineador. A sua semelhança com uma caixa encontrada em Bactria sugere importação e ligações culturais.
- Joias de Ouro: Incluem brincos e um anel de ouro, símbolos de riqueza e prestígio.
- Alfinetes de Marfim e Bronze: Um alfinete de bronze em forma de mão segurando uma roseta destaca-se pela sua sofisticação artesanal.
- Selo de Bronze com Pés Humanos: Gravado com pés humanos, este selo indica que a jovem ou a sua família participavam em atividades comerciais ou administrativas.
- Cerâmicas e Outros Itens: Doze vasos cerâmicos, contas de lápis-lazúli e um espelho de bronze completam a coleção, sugerindo ligações comerciais com o Afeganistão e o Vale do Indo.
Estes artefactos, descritos num estudo publicado no Journal of the British Institute of Persian Studies, apontam para uma sociedade hierárquica onde o estatuto podia ser herdado, possivelmente por nascimento ou casamento. A jovem, demasiado jovem para alcançar tal posição sozinha, provavelmente herdou a sua riqueza e influência.
A Grande Civilização do Coração: Um Centro de Comércio
A Grande Civilização do Coração era uma rede cultural sofisticada, com trocas comerciais que se estendiam até à Mesopotâmia, ao Vale do Indo (Mohenjo-daro) e às comunidades costeiras do Golfo Pérsico. Tepe Chalow, estrategicamente localizado numa rota comercial que mais tarde faria parte das Rotas da Seda, beneficiava desta conectividade. Materiais como lápis-lazúli (do Afeganistão) e marfim indicam trocas de longa distância, enquanto a clorite local sugere produção artesanal regional.
Curiosamente, as sepulturas femininas em Tepe Chalow são frequentemente mais ricas que as masculinas, sugerindo que as mulheres tinham papéis proeminentes na sociedade. A presença de selos, símbolos de autoridade comercial, reforça a ideia de que esta jovem desempenhava ou estava destinada a desempenhar um papel ativo na comunidade.
Preservação e Descoberta
Tepe Chalow, identificado em 2006 e escavado a partir de 2011, revelou 48 sepulturas, muitas agrupadas em clusters familiares. A Sepultura 12, descoberta em 2013, destaca-se pela sua opulência e preservação, apesar de estar apenas a 15 cm da superfície devido à erosão. A proximidade de um canal subterrâneo (qanat) ajudou a proteger a sepultura de danos agrícolas. Estudos futuros, incluindo análises de DNA e isotópicas, prometem revelar mais sobre a dieta, origem e mobilidade da jovem, enquanto análises tecnológicas dos artefactos esclarecerão técnicas de produção e redes comerciais.
Um Legado Redescoberto
A Sepultura 12 de Tepe Chalow não é apenas uma descoberta arqueológica; é uma janela para uma civilização que rivalizava com as grandes potências da Idade do Bronze. A jovem, adornada com joias e artefactos de significado ritual, representa a riqueza e a sofisticação da Grande Civilização do Coração. Esta descoberta desafia suposições sobre papéis de género e destaca o papel central do Coração nas redes comerciais da Antiguidade. À medida que as escavações continuam, a história desta jovem e da sua civilização promete reescrever o passado da Ásia Central.