Os gatos fascinam a humanidade há milénios. Desde os tempos em que eram venerados como divindades no Antigo Egito até à sua consagração como estrelas das redes sociais, estes felinos conquistaram um lugar único nos corações e nas culturas de todo o mundo. Seja pela sua natureza independente, pela habilidade de caçadores ou pelo charme irresistível, os gatos transformaram-se de protetores de colheitas em ícones globais. Como conseguiram esta façanha? Vamos explorar a jornada dos gatos, do Crescente Fértil ao Instagram, e descobrir por que continuam a encantar milhões.
Das Origens Agrícolas à Domesticação
A relação entre humanos e gatos começou há cerca de 10 mil anos, no Crescente Fértil, quando a agricultura transformou o modo de vida humano. Os primeiros agricultores armazenavam grãos, atraindo roedores, que, por sua vez, atraíram gatos selvagens. Esta convivência mutuamente benéfica marcou o início da domesticação. Os gatos, com instintos de caça apurados, protegiam os estoques de alimentos, enquanto os humanos lhes ofereciam abrigo e comida abundante. Por volta de 7500 a.C., evidências arqueológicas, como um esqueleto de gato enterrado junto a um humano em Chipre, sugerem que os felinos já eram mais do que meros aliados práticos — eram companheiros.
Deuses Felinos no Antigo Egito
No Antigo Egito, os gatos alcançaram um estatuto quase divino. Associados à deusa Bastet, protetora do lar e da fertilidade, eram reverenciados como guardiões espirituais. Matar um gato, mesmo acidentalmente, era um crime grave, punível com severidade. Após a morte, muitas famílias mumificavam os seus felinos, enterrando-os em vasos consagrados, um sinal de profundo respeito. O culto a Bastet, centrado na cidade de Bubastis, atraía milhares de peregrinos, que celebravam com rituais, danças e oferendas. Os gatos não eram apenas animais de estimação; eram símbolos de proteção e prosperidade, com um papel central na cultura egípcia.
A Viagem dos Gatos pelo Mundo
A expansão dos gatos para além do Egito deveu-se às rotas comerciais e marítimas. Levados em navios para controlar roedores, os felinos chegaram à Europa, Ásia e outros continentes. Na China, por volta de 1400 a.C., protegiam plantações de bicho-da-seda, enquanto no Japão, séculos depois, o Maneki-Neko, o famoso “gato acenando”, tornou-se um amuleto de sorte e riqueza. A pata levantada do Maneki-Neko carrega significados distintos: a pata direita atrai prosperidade, enquanto a esquerda convida visitantes. Esta disseminação global consolidou a presença dos gatos em quase todos os continentes, exceto na Antártida.
** altos e Baixos na História**
Nem sempre os gatos foram adorados. Na Europa medieval, a sua reputação sofreu um duro golpe. Associados a superstições e à bruxaria, especialmente os gatos pretos, foram perseguidos e mortos em massa, numa campanha impulsionada pela Igreja Católica. Esta hostilidade, curiosamente, pode ter contribuído para a propagação da Peste Negra, já que a redução da população de gatos permitiu a proliferação de ratos. Com o Renascimento, a visão sobre os felinos mudou, e eles voltaram a ser valorizados como caçadores e companheiros, recuperando o seu lugar nos lares.
Estrelas do Século XXI
Hoje, os gatos são reis das redes sociais. No Instagram, felinos como Nala, com 4,4 milhões de seguidores, tornaram-se celebridades, lançando até marcas próprias de ração. Figuras públicas partilham fotos com os seus gatos, humanizando as suas imagens. A popularidade dos gatos na internet reflete a sua natureza cativante, que combina independência com momentos de carinho. Na Rússia, onde 58% das famílias têm pelo menos um gato, a sua presença é tão marcante que até o Museu Hermitage mantém gatos para proteger as suas coleções de roedores. Em todo o mundo, os felinos continuam a ser símbolos de graça e mistério.
O Fascínio Eterno dos Gatos
Dos altares egípcios aos ecrãs dos smartphones, os gatos conquistaram o mundo com a sua mistura única de utilidade, misticismo e charme. A sua jornada, desde caçadores selvagens a companheiros inseparáveis, reflete a capacidade de se adaptarem a diferentes culturas e épocas. Hoje, continuam a inspirar admiração, seja como guardiões espirituais, amuletos de sorte ou estrelas digitais. A história dos gatos é a prova de que, com ou sem internet, o seu reinado sobre os corações humanos permanece inabalável.